Parte XV: NY - 6 de fevereiro de 2030 - 9h
- Gabriela Carvalho
- 10 de dez. de 2016
- 6 min de leitura
Amanhece. Anastácia está em pé na janela do quarto, olhando o jardim e lembrando de Ema sentada no balanço, assustada.
- Amor, o que foi? – pergunta Ian acordando – Marcel já levou as crianças pro abrigo?
- Não, ligaram do hospital, Paul está vivo. Não é necessário tratar as crianças como órfãs sendo que o pai só está desacordado. Vão ficar aqui até ele receber alta.
- Melhor assim – diz Ian, levantando da cama – eu te conheço, o que foi? – ele diz, se aproximando dela.
- Ontem, não foi um assassinato de vingança. Ele queria alguma coisa. Ele disse, eu quero o Renascimento. Reconheci Mary, é a mulher dos meus sonhos, a mãe do garoto que vimos há 15 anos.
- O quê?! Você está me dizendo que Samuel é a reencarnação de Baltazar?
- Acho que sim – alguém bate na porta – é o Sam, ele quer conversar comigo – diz Ana, indo em direção a porta.
- Vou tomar banho – fala Ian, dando um selinho na amada.
- Será que você pode me dizer o que é agora? – pergunta Sam na porta. Ana suspira e o leva para a cozinha.
- Sam, o que você se lembra? – ela pergunta.
- Da noite passada?
- Não! O que você se lembra quando me viu pela primeira vez – Sam fica confuso.
- Lembro de você sentada em um jardim, olhando o pôr do sol. Seu noivo... É Ian o nome dele, não é? Eu acho que pensei ter visto ele de armadura quando entrou na minha casa... O que isso tem a ver?
- São memórias? – diz Ana, entregando para ele um copo de leite e um sanduíche – come, precisa se alimentar, aonde vamos precisamos de força.
- Onde vamos? – pergunta Sam.
- Faremos uma pequena viagem, você só acreditará o que falo se ver. Posso fazer mais uma pergunta?
- O quê?
- Por que não sentiu medo? Por que ficou calado quando te pedi? – Sam pára de comer pensativo.
- Porque eu tinha vontade de saber se tudo o que se via nos filmes eram reais... eu acho... Sempre me senti sozinho, estranho, vazio, quando vi você daquele jeito, eu passei a ser um cara normal – ele tenta explicar – estou cheio! Me mostra! – ele pede virando de uma vez o copo de leite.
Ana o leva para o sofá, Sam senta, ela coloca as mãos em sua cabeça, seus olhos dessa vez ficam brancos, tão brancos que Samuel passa a enxergar imagens dentro deles.

“-Você ganhou uma nova chance” – Soa a voz de Ayla em seu ouvido.
- “Eu não aceito pai!... Dana!... AYLA... E para que serve as mulheres minha irmã? Beba meu sangue....” – ele pula assustado, na visão seu coração é arrancado, ele enxerga Ana desesperada na sua frente: “IAN!!!NÃO!” – seus olhos fecham.
Samuel está com os olhos brancos iguais o de Ana, gradativamente seus olhos vão voltando ao normal juntos com os dele. Ela tira as mãos de sua cabeça e o chama, Samuel acorda e se levanta assustado.
- ISSO É LOUCURA! O que eu fiz com aquelas pessoas, Minerva, Dana, Ian, minha irmã... Eu era um monstro! ISSO É REAL?! EU ESTOU ENLOUQUECENDO?! – ele fala se coçando aflito – Como isso é possível?
- Como se sente? – pergunta Ana – Ainda sente-se “normal”?
- Sim.
- Então tudo é possível! Sam, você se sentia excluído por que sabia que era diferente de todos, que era mais que um simples adolescente antissocial e que gostava de coisas estranhas. Agora que sabe a verdade, pode respirar mais aliviado, sabe que agora tudo o que era visto como imaginação, ilusão da sua mente é real – explica Ana – o perigo também é real, precisamos ficar atentos – Sam lembra-se da tatuagem e mostra pra Ana:
- Esses sinais são símbolos que marcam a magia, correto? – pergunta, levantando a manga da blusa – então, ontem quando vi minha mãe sendo morta, meu braço queimou e coçou muito, logo em seguida esse desenho se formou – ele mostra o desenho e Ana fica em dúvida.

- Você é descendente de Ayla?! – ela pergunta.
- Não sei, minha mãe não falava muito dos meus avôs – ele afirma.
- Quem são seus avôs?
- Eles morreram. Era só a gente.
Ana olha para o desenho, muito maior do que os outros e deduz que Samuel é muito mais poderoso do que qualquer outro bruxo.
- Sam! – fala Ian – o Marcel ligou da delegacia, seu pai acordou.
- Ana, você me leva?! – ele pergunta.
- Claro! Vamos!
- Amor, você vai ficar bem com as crianças? -ela pergunta para Ian.
- Elas estão dormindo, vamos sobreviver – ele brinca. Ana dá um beijo nele e pega a bolsa pra levar Samuel até o hospital.

Samuel entra correndo no quarto pra abraçar o pai.
- PAI! A mamãe, ela, ela... – ele cai no choro.
- Tudo bem! Já me contaram. Está tudo bem! Vai ficar tudo bem! – ele fala, segurando o choro abraçado ao filho. Anastácia entra no quarto e ele sente uma enorme saudade misturado com alegria em vê-la, Paul reconhece familiaridade em seus traços, é como se ele tivesse reencontrado alguém que sentisse profundo carinho, ternura. Marcel volta ao quarto após desligar o celular.
- Petter ligou! Parece que descobriram o esconderijo do nosso assassino.
- Você vai lá? – pergunta Ana.
- Ele é suspeito de matar Sarah, estou no caso dela, tenho que ir averiguar – ele fala, dando um beijo na testa da filha, ele vai até Paul e lhe abraça – que susto que nos deu! Sinto muito por Mary!
- Obrigado, meu amigo. Obrigado também por cuidar de meus filhos, sabia que podia contar com você! – ele se despede.
- Tchau, filha! – fala Marcel, passando a mão no ombro de Anastácia.
- Não sabia que Marcel tinha filha – diz Paul olhando pra ela.
- Nossa relação foi um pouco conturbada, me aproximei dele depois da morte da minha mãe – fala.
- E Ema, como ela está? – pergunta Paul.
- Ela ainda não sabe da morte da mamãe, não tive coragem de contar ainda – diz Sam – ela está na casa de Marcel, saímos de lá e ela ainda estava dormindo. Eu preciso de mostra uma coisa – ele diz, mostrando o desenho. Paul arregala os olhos irritado, pensando que Samuel tinha feito a tatuagem – isso apareceu ontem na minha pele quando vi o assassino da mãe, queimou muito e daí apareceu.
- É uma tatuagem! Quem fez isso em você? – ele pergunta.
- Não é pai! Ela apareceu ontem e tem mais... Ontem, o cara fez com que eu não conseguisse me mexer, não sei como mas, eu pude lutar com ele depois que mamãe morreu. A última coisa que ela me disse foi: “use sua força” e eu me soltei. PAI! Isso tudo foi sem ele encostar em mim – ele fala, levantando da cama e olhando fixamente para o copo de água do criado ao lado da cama.
- Sam, o que está fazendo!? – pergunta Paul.
- Espera, acho que eu consigo – ele fala. Ana observa a concentração do menino que consegue com o poder da mente levitar o copo por alguns segundos e depois derrubá-lo no chão – foi assim que voltei a me mexer ontem, eu pensei em correr e aconteceu. Eu estava preso – Ana fecha a porta do quarto.
- Acho que precisamos conversar algo muito importante, senhor e não pode esperar – ela fala para Paul. Ele se lembra dela na lanchonete.
- Você estava bebendo um Milk-shake no Face’s quando Sam tinha 2 anos, eu te vi lá sentada na mesa do canto, escrevendo. Em quinze anos continua com o mesmo rosto...
- Pensei que você também tinha nascido de novo?! – diz Sam, lembrando das visões que teve – Achei que você tinha morrido como Baltazar e nasceu outra vez?!
- Sam, se eu tivesse nascido novamente, não teria o mesmo rosto nem o mesmo nome! Queria saber o que eu sou, pois bem, está na hora de contar.
- Vampiro! – diz Paul olhando para ela.
- Não exatamente, sou diferente!
- A hibrida!!! – afirma Paul. Sam passa a se recordar sozinho de outras memórias de Baltazar, como o feitiço do vampirismo criado por ele e quando ele conheceu Anastácia no castelo de Ian.
- Eu lembrei! Lembrei de você no castelo, quando era Baltazar! Eu criei vocês!
- Veja que engraçado! Seu filho é a reencarnação do primeiro vampiro, o bruxo que nos criou e hoje ele descobre que nasceu novamente como bruxo! Que ironia, não acha?! – ela fala para Paul que arregala os olhos assustado, olhando para o filho.
- Mary me contou essa história, achei que era fantasia! Por isso ela aceitou se afastar dos pais quando eu pedi que fizesse, ela queria te proteger – fala.
- Me proteger do que pai?!
- Acho que seu pai sabe muito mais do que pensei, vamos ouvir o que ele tem a dizer! – finaliza Ana.

Comments