Parte XIII: Casa do Marcel - 5/2/2030 - 23h
- Gabriela Carvalho
- 26 de nov. de 2016
- 6 min de leitura
Ana e Ian retornam para casa, eles encontram Clara e Ema dormindo abraçadas no sofá.
- Ema – chama Ana.
- A mamãe está bem? – pergunta ainda sonolenta, Ana segura o choro.
- A mamãe está bem, vamos pra cama – ela diz.
- Você vai me levar pra ver ela amanhã?- pergunta Ema – e o papai?
- Você vai vê-los, querida, mas não agora, está tarde.
- E o homem mal?
- O homem mal fugiu, a polícia está tentando encontrá-lo, o Sam ta ajudando, por isso nem ele nem seus pais e o tio Marcel estão aqui, me pediram pra cuidar de você, entende porque não pode vê-los agora!? – diz Ana, tentando contornar a situação para Ema não desconfiar da morte de Mary, a menina responde que sim e cai no sono, Ian pega ela no colo e leva para o quarto de Marcel.
- Precisamos esconder Clara, os policiais chegarão em breve e reconhecerão a menina – diz Ian.
- Vou ocultá-la com um feitiço – diz Ana.

Samuel está sentado nas escadas na varanda, enrolado em um cobertor, observando seus pais sendo levados para a ambulância, os paramédicos carregam o corpo de Mary já vedado no saco dentro do caixão, Sam olha a cena e chora, seu pai está entrando na ambulância, entubado, o sangue de Marcel curou a gravidade dos ferimentos, porém Paul ainda estava desacordado e com dificuldades de respirar.
- Sam, pode nos contar o que aconteceu? – diz Petter sentando ao seu lado – sinto muito! Sua mãe foi uma ótima capitã e grande mãe.
- A última coisa que fiz foi brigar com ela, ela partiu me odiando.
- Não diga isso! Ela sabia amava você, nunca iria te odiar. Sei que é difícil pra você prestar depoimento agora, mas é preciso me contar o que ouve...- insiste Petter, Sam enxuga as lágrimas e começa a falar:
- Estávamos na sala discutindo, Ema estava dormindo no quarto, de repente ela apareceu correndo pelas escadas gritando que tinha visto um homem no quarto, daí, a gente passou a ouvir passos nos quartos, meus pais pegaram a arma e subiram as escadas .... – Sam lembra de seu pai sendo arremessado – Acho que meu pai foi na frente... É! Ele subiu primeiro, minha mãe estava atrás, ele foi jogado da escada e bateu na parede, minha mãe tentou atirar mas não conseguiu, um homem apareceu descendo as escadas... “- Sam, corre!” – soou a voz de Mary em sua cabeça – ela pediu pra eu correr, então peguei a Ema e fui para a cozinha, minha mãe ficou na sala lutando com o cara, ela também foi jogada por ele, Ema gritou, ele aparece e .... Eu abri a porta dos fundos e corri, não lembro quanto tempo eu corri, eu deixei a Ema no balanço no quintal de uma casa, pedi para ela olhar no meu celular nas horas e chamasse a policia se eu não aparecesse, voltei pra cá e... – ele volta a chorar - .... a mãe tava deitada no chão, com a garganta cortada, ela morreu na minha frente, depois ele partiu pra cima de mim, eu tentei brigar mas ele me empurrou, daí surgiu o... – ele lembra de Ian entrando na sala, Marcel surge atrás de Petter e com a cabeça pede para Sam omitir o que aconteceu.
- Daí surgiu?... – pergunta Petter. Sam olha profundamente para Marcel:
- Marcel apareceu e lutou com o homem – Petter olha para Marcel.
- Acho que Sam não sabia que ele tinha deixado Ema na minha casa, minha filha escutou o choro dela e encontrou com seu noivo, eu vim pra cá ajudar e deixei Ema na minha casa.
- Pera aí, filha??? – exclama Petter.
- É uma longa história, eu levo você até lá – diz Marcel – vamos Samuel! – Sam tira o cobertor imediatamente do corpo e segue Marcel até sua casa.

Ana abre a porta, ela está limpa, com o cabelo preso, sem maquiagem.
- Pai, está tudo bem? – ela pergunta. Samuel a encara perdido, parece se recordar dela, em sua mente vem rapidamente a imagem de Ana sentada no ao pôr-do-sol em um jardim, cabelos longos presos, vestido de manga comprida, parece ser de outra época.
- Filha, esse é o Petter, ele precisa ver a Ema. Petter essa é a Ana, minha filha – diz Marcel, Ana cumprimenta o oficial e abre a porta para entrar, Ian está descendo as escadas, com os cabelos molhados.
- Estava no banho senhor?.... – pergunta Petter, desconfiando da atitude.
- Sim, chegamos tarde de viagem e nos deparamos com uma menina assustada em nosso jardim, quando conseguimos acalmá-la eu resolvi tomar um banho, ela acabou de dormir – responde Ian.
- Esse é o Ian, meu noivo. Não somos daqui oficial, moramos na Romênia, acabamos de chegar, temos investimentos aqui e viemos para resolver alguns problemas.
- Que tipos de investimentos? – pergunta Petter.
- Ações na bolsa, sociedade em empresas, possuo algumas propriedades aqui, controlo seus alugueis, minha família por muito tempo governou as terras da Romênia, depois que passou a idade média e perdemos o trono, ainda nos sobrou alguns tesouros, soubemos conservar nossa fortuna e manter nosso nível de vida – diz Ian
- Não está muito nova para ser noiva? Se é que não estou invadindo, desculpe, é minha função, quantos anos a senhorita têm?
- Tenho 21 anos, policial, minha mãe pertence a uma família real muito antiga da Hungria, mantemos tradições, o casamento é uma dessas tradições, é claro que isso não significa que estou sendo forçada a me casar, é que em famílias que possui histórias muito antigas na nobreza européia, alguns costumes tendem a ser respeitados. Como me apaixonei por Ian e por ele também ser de família real, acharam que o casamento seria interessante para ambas as famílias.
- Nobreza?! – pergunta ironicamente Petter para Marcel, tentando entender como o amigo conseguiu ter uma filha na Hungria.
- Quando mais novo trabalhei na Hungria por algum tempo, queria aventura, fui empregado em uma das empresas da mãe de Anastácia, é claro que não imaginava que a moça vestida de copeira era uma condessa – mente Marcel para abafar a curiosidade de Petter.
- Bom, eu posso ver a Ema, vocês disseram que ela estava dormindo – diz Petter.
- Claro, eu os acompanho – diz Ian.
Ana segue-os próxima de Sam, ambos estão caminhando devagar se afastando de Petter e Marcel.
- Você mente bem – diz Sam.
- Você também.
- Dá pra me dizer como conseguiu jogar aquela faca na mão do cara? Você é uma bruxa? Faz Vudoo? Já foi caçada? – continua a perguntar, Ana se irrita e empurra Sam para o quarto, segurando-o, ela tenta hipnotizá-lo.
- Você vai se esquecer de tudo que viu, eu não segurei a faca com o poder da minha mente e nem enfiei nada na mão dele, quem fez isso foi Marcel, não havia ninguém de diferente na casa além dele – ela diz, Sam fica assustado com os olhos negros de Anastácia, a mulher percebe que não conseguiu hipnotizá-lo e apela para o medo.
- Quer saber o que eu sou? – ela diz, arreganhando os caninos, seus olhos ficam vermelhos, deixando Samuel mais assustado – Fique de boca fechada! – ela fala saindo.
- Legal! Seu pai machucou a mão do bandido e ele fugiu assustado. Só não faça mal a mim ou a minha irmã senão conto tudo – ele sussurra em seu ouvido.
- Não estou aqui para feri-los. Você verá uma menina do lado de sua irmã, Petter não irá vê-la, então finja que ela não existe – ela fala.
- Por que eu vejo e ele não?
- Quer saber isso também?! Confie em mim que te conto – diz Ana, entrando no quarto. Petter observa Ema deitada, está abraçada ao ursinho, o celular de Sam está ao seu lado. Samuel olha a irmã e Clara, sentindo um arrepio ao ver a imagem da menina.
- Marcel, você não vai poder participar das investigações, é testemunha. A central encaminhará um outro detetive para o caso, deverão responder as mesmas perguntas outra vez – explica Petter.
- Tudo bem! – diz Ana passando a mão no colar.
- Petter, pra não ter que deixar as crianças dormirem em um abrigo, elas não podem ficar aqui – diz Marcel, hipnotizando o amigo – conheço Mary há anos, deixe-as ficar apenas essa noite.
- As crianças podem passar a noite com vocês, mas amanhã deverão comparecer à delegacia para prestar depoimento. Marcel, você e Samuel deverão fazer o exame de Corpo de Delito agora, precisam me acompanhar.
- Pensei que a noite já tinha acabado – reclama Samuel.
- Depois do exame sim! Vamos, quanto antes formos mais rápido acaba – diz Marcel. Samuel beija a testa da irmã e olha uma última vez para Anastácia.
- Eu os levo – diz Ian – vou atrás de seu carro, policial.
- Vai Samuel, sua irmã ainda estará aqui quando voltar – diz Ana.

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