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Parte VIII - NY: 4 de fevereiro de 2030 - 10h05min

  • Por Gabriela Carvalho
  • 22 de out. de 2016
  • 9 min de leitura

Após desligar o celular, Marcel bate na porta do diretor do hospital, ele entra.

- Sou o detetive Marcel Thomas, o abrigo me ligou a respeito de uma criança que trouxeram para cá, o nome dela é Clara Millers.

- Sim, a paciente do 206, por favor, sente-se detetive – pede o médico – Sou o Doutor Jackson, muito prazer – diz estendo a mão para cumprimentar Marcel.

- Diga-me o que posso ser útil? – pergunta Marcel.

- Bom, a paciente aparenta sinais de transtorno mental – diz o médico, mostrando os laudos e as fotos da garota para Marcel, a menina está com os braços arranhados nas imagens e com o rosto marcado de unhadas – ela chora, grita, durante o sono, sonha com o que ela diz ser o monstro que matou sua mãe, ao acordar percorre todo o quarto, se arranhando, tivemos que a colocar em uma camisa de força antes de iniciarmos a medicação.

- Medicação, ela já está em tratamento? – pergunta Marcel.

- Pensei que a moça do abrigo tinha lhe falado – diz o médico.

- Falado o que, Doutor? – o médico senta e tira os óculos.

- Clara está internada aqui desde que sua mãe morreu. Quando seus policiais a deixaram no hospital, a avó materna foi chamada, depois de dois dias internada, ela procurou o hospital e assinou um termo fornecido pelo abrigo, alegando não haver condições de cuidar da menina e abdicou judicialmente de todos os direitos e responsabilidade pela garota, a deixando no hospital, ao receber alta, ela foi para o abrigo, foi quando as crises começaram, depois de uma semana, ela estava assustando as outras crianças, a diretora do abrigo pediu para interna-la aqui e desde então, a única companhia que ela tem sou eu e minha assistente, as outras enfermeiras não se aproximam de medo da menina.

- E a adoção? – pergunta Marcel.

- Está fora de cogitação, pelo menos por enquanto, depois que ela receber alta do tratamento psiquiátrico, sua ficha será disponibilizada para adoção, no entanto, quem irá querer adota-la? – questiona o médico - Detetive; lhe digo com toda franqueza, as pessoas procuram adotar crianças perfeitas, ela tem um trauma que durará a vida toda, mesmo com remédios, as lembranças do que ela viu naquela noite ficarão presas em seu subconsciente para sempre, ela assistiu a morte violenta da mãe, isso não se apaga. Ela certamente terá problemas com socialização, no aprendizado e necessitará de atenção, a maioria das pessoas na fila de adoção buscam crianças não para dar amor, mas para dizer que possuem um filho.

- Eu posso vê-la? – pergunta Marcel.

- Claro, por favor, venha comigo – diz o médico. Os dois saem da sala de percorrem um grande corredor. Marcel escuta as vozes dos outros pacientes, todos gritando ou em surto, em um quarto ao lado, um homem está sedado com as mãos e pés amarrados nas cama, Clara está na ala de tratamento para pacientes em surtos extremos.

- Não tinham outra ala para colocá-la? – pergunta Marcel, olhando para a tristeza do local.

- Infelizmente, ninguém se disponibilizou a pagar as despesas dela, então .... – diz o médico, abrindo a porta do quarto, Clara está sentada no meio da cama, de cabeça baixa, os cabelos dourados na cara, desde a ultima vez que Marcel a viu, ela cresceu, mudou a fisionomia, a cara e os olhos de anjo continuam, porém, já não tem mais leveza, o sofrimento a modificou.

- Clara, você tem visita – exclama o médico, Marcel entra.

- Oi, fiquei sabendo que você andou perguntando por mim, não sabia que ontem foi seu aniversário. Prometo que da próxima vez, trago um presente – ele diz se aproximando dela, as unhas da menina estão sujas, seus braços possuem marcas de arranhões cada vez mais profundos.

- Clara – chama Marcel, a menina não reage, ele senta na cama, de repente, ela começa a coçar sem parar os braços, por mais que suas unhas estejam curtas, parecem lâminas, elas cortam a pele com força. Marcel a segura, ela cochicha palavras em latim, olhando para os lados, como se estivesse desnorteada e cega.

- CLARA! – grita Marcel, a criança olha para ele – por favor, você está se machucando.

- Ele me machuca, como machucou minha mãe – diz Clara. Marcel olha para as mãos e braços da garota, visualizando os cortes, de repente, um sinal em seu pulso é familiar.

- Essa mancha? – ele diz para ela, apontando o sinal – você tem desde que nasceu? – a menina recolhe os braços e deita na cama, Marcel a cobre.

- Mamãe dizia que era especial, e que por isso eu tinha que ser protegida, ela morreu pra me proteger – diz Clara derrubando lágrimas dos olhos.

- O médico disse que você me chamou. Por quê?

- Mamãe disse que você pode me proteger que seus amigos podem matar quem machucou ela.

Marcel observa o pescoço da garota e enxerga marcas de um cordão: Ela possui algum colar?

- Mamãe me deu, disse pra eu nunca tirar.

- Durante a internação, o paciente não possui nenhum objeto no corpo – responde o médico – os pertences dela estão guardados e serão entregues após a alta – A menina pega o braço de Marcel com uma força descomunal para alguém de sua idade.

- Ele está vindo – ela diz, olhando profundamente para os olhos de Marcel, de repente, seus olhos ficam fixos na janela, ele levanta e vai até a janela, do lado de fora, a figura do homem que ele perseguiu, parado olhando para o quarto, o homem parece encarar Marcel por alguns segundos, depois caminha tranquilamente para longe do hospital, indo embora.

- Doutor, temo que ela não esteja segura aqui, peço que o senhor alerte os seguranças, trarei escolta policial assim que possível- ele diz, voltando a sentar na cama. Marcel passa a mão nos cabelos de Clara, sentindo por ela uma enorme afeição paterna – eu volto pra te ver, promete fazer tudo direitinho pra sair logo daqui? – Clara responde que sim, Marcel dá um beijo em sua testa e vai embora.

Ao sair do hospital acompanhado pelo diretor, Marcel vai até o suspeito estava parado, a vista dá direto para o quarto de Clara, ele pode ver a menina deitada na cama.

- Detetive, o que o senhor teme? – pergunta o médico.

- A mãe de Clara estava grávida?

- O quê? – pergunta o médico surpreso com a notícia.

- A mãe da garota teve o feto arrancado do ventre antes de ser morta, o bebê desapareceu, estamos lidando com um assassino em série que mata mulheres e crianças, Clara foi resgatada com um corte no pescoço, ela se escondeu pra não ser morta. O assassino pode voltar isso se ele já não estiver rondando o hospital, buscando o melhor jeito para entrar e matar a menina, fique de olhos abertos, doutor – diz Marcel.

- Ficarei – diz o médico. Marcel observa o hospital, o prédio é antigo e possui vários andares, no entanto, o último andar é apenas uma torre com uma pequena janela circular para entrar luz e ventilação.

- Vocês guardam alguma coisa no sótão? – pergunta Marcel apontando para a torre.

- Não.

- Ele tem condições de abrigar um paciente como a Clara?

- Sim, detetive, ele passou por reforma recentemente, é limpo todos os dias... Por quê?

- Se nós conseguimos vê-la daqui, o assassino também, monte um lugar aconchegante para ela no sótão, só há uma entrada e é por lá que iremos controlar quem entra para vê-la, o lugar também é de difícil acesso, cuide o senhor mesmo da mudança, antes de fazer isso, feche as cortinas do quarto, ninguém pode ver a Clara saindo, entendeu?

- Sim.

- Amanhã volto para vê-la, transfira-a hoje mesmo – diz Marcel – mais uma coisa; posso ver o colar que a mãe deixou para a menina?

- É um colar de prata, com um pingente de medalhão – diz o médico entregando o objeto para Marcel.

Marcel observa a corrente de prata bem fina, segurando um pingente circular com uma pedra negra no centro, ele tenta abrir, porém a dobradiça está emperrada. O objeto parece ser antigo, de uma época em que Marcel ainda era vivo, atrás do medalhão existe o desenho de um pentagrama carimbado na prata.

- Eu posso levar para analise? – pergunta Marcel.

- Ele é todo seu – diz o médico – só não sei se o senhor encontrará algo nele.

Marcel observa o fecho da corrente: está quebrado como se tivesse sido arrancado do pescoço com força.

- Olha por onde anda – diz o jovem empurrando Sam.

- Desculpa cara não queria ter encostado em você.

- E você acha que eu queria ter encostado em você, presta atenção por onde anda, Samuel! – diz o garoto, Sam olha envergonhado para Natalia que observa a cena, o rapaz percebe a troca de olhares.

- O NERD tá apaixonado, hein? – pergunta enquanto empurra Samuel – se afasta da minha irmã.

- PARA! – grita Natalia.

- Não se mete nisso.

- Larga ele Josh! – insiste Natalia, segurando o braço do irmão.

- Já disse para não se meter – diz Josh, empurrando-a. Natalia cai no chão e machuca a mão, enfurecendo Sam. Josh o solta e vira as costas para ir embora.

- Não se bate em uma mulher – ele diz. Josh vira de volta.

- Que é que você disse?

- Que não se bate em uma mulher – Josh sorri ironicamente e dá um soco na cara de Sam, o garoto colocar a mão no nariz e vê o sangue escorrer, seu punho se fecha.

- Covarde – fala Sam.

- Sam, “vamo” embora – diz Oliver aparando o amigo.

- Covarde – diz Samuel.

- Quer apanhar mais – diz Josh.

No momento em que Josh tenta golpear mais uma vez Sam, ele desvia e acerta um soco na cara de Josh que cai no chão, a raiva toma conta de Sam que ataca com chutes o rival.

- Sam, para – grita Oliver. A multidão grita ao ver a briga dando apoio para que Sam continue a bater. Natalia levanta e vai para perto de Sam e o toca.

- Esse não é você – ela diz olhando para ele. Sam para de bater em Josh. O diretor chega.

- BRIGA! SAMUEL! – grita Mary. Sam está sentado na sala da mãe ouvindo broncas – Eu não te ensinei a ser violento, sabia que o Joshua fraturou um osso na costela, você quebrou um osso da costela com apenas um chute.

- Ele empurrou a irmã que se machucou mãe, não podia o deixar sair ileso – tenta explicar.

- Você defende-la e levar um soco por isso é uma coisa, agora depois do soco você atacar o garoto com chutes! Você perde a razão – continua Mary a danar.

- Só tentei ser gentil com ela.

- Você acha que ela pensa que você é gentil depois de ter quebrado a costela do irmão dela? Depois ainda tive que escutar os pais do Joshua falando que uma policial como eu deveria ensinar boas maneiras para meu filho...

- AH! ENTÃO É ISSO! Pra você é sempre a imagem da grande policial que deve ser preservada ...

- Sam não é isso...

- É isso sim, Mãe, a senhora não se importa comigo ou com a Ema, é sempre o trabalho, trabalho, trabalho, você e o papai nunca estão conosco, nem mesmo no café da manhã ...

- As pessoas precisam de nós Samuel ...

- Eu e a Ema também! – grita Sam, Mary suspira.

- Pegue a sua irmã e vai pra casa, quando eu e seu pai chegar teremos uma conversa.

- Isso se ninguém matar mais ninguém na rua – diz Sam, levantando da cadeira e indo embora. Marcel abre a porta e topa com o menino – Vem, Ema, vamos para casa!

- Por que seu nariz tá inchado? – pergunta a menina.

- Te conto quando chegarmos em casa, vem! – diz Sam indo embora.

- Tudo bem? – pergunta Marcel.

- Filhos – diz Mary – você não vai entender.

- Na verdade eu acho que entendo, tenho uma filha, Anastácia – conta Marcel. Mary se surpreende.

- Você nunca me disse que tinha filhos.

- É porque nossa relação foi um pouco conturbada! Ela foi tirada da mãe assim que nasceu e eu fui proibido pelo avô dela de se aproximar, ela cresceu em uma região distante por outras pessoas. Felizmente, a conheci a tempo de presenciar sua adolescência – conta Marcel.

- Quantos anos ela tem?

- 18.

- Por que você foi proibido de se aproximar dela?

- Eu me apaixonei pela filha do meu patrão – simplifica Marcel – e ela estava noiva de outro.

- Eu que pensava que o mundo estava moderno demais, alguns lugares ainda permanecem velhos pensamentos – diz Mary – alguma novidade sobre o assassino que procuramos?

- A filha da vítima do bosque, Clara, está internada em um hospital psiquiátrico, fui lá hoje e tive a impressão de ver alguém rondando o local, o mesmo suspeito que persegui no dia da morte da mãe dela. Gostaria de colocar escolta policial, porém preciso de uma autorização, penso que sendo um pedido seu, o juiz assine mais rápido – diz Marcel.

- Vou ver o que posso fazer. E seus amigos, estão chegando?

- Pela manhã.

- Certo, eu estou indo pra casa, preciso ter uma conversa com certo rapaz de 16 anos – diz Mary, saindo.

- Boa sorte! – fala Marcel.


 
 
 

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