Parte VI - NY: 4 de fevereiro de 2030 - 6h45min
- Por Gabriela Carvalho
- 15 de out. de 2016
- 6 min de leitura

- Sam... Samuel! – grita a mulher. Sam tira os fones do ouvido – filho pare de ouvir músicas tão altas, acabará surdo.
- E nunca arrumará uma namorada – brinca a garota no banco de trás do carro jogando o ursinho de pelúcia na cara dele. Sam pega o ursinho e joga de volta com força.
- Parem de brigar, já estamos chegando. O carro para na frente da escola, Sam hesita em sair.
- Sam, vamos não tenho o dia todo – diz a mulher.
- Ele está com medo dos garotos – diz a menina.
- Que garotos Samuel? – pergunta a mulher.
- São só garotos mãe – diz, saindo do carro e batendo com força a porta.
Samuel tem dezessete anos, é um garoto de pele clara e robusto, seus cabelos curtos negros deixam sua pele ainda mais pálida. Sua roupa também de cor negra e o deixa um pouco magricelo, ele é alto e anda com a postura curva, sempre com a cabeça pra baixo e de capuz, com os fones de ouvido no volume máximo.
Ele é o filho mais velho de uma típica família de classe média americana, sua irmã menor, Ema, tem seis anos de idade e adora implicar com o garoto, aliás, para Sam, todos parecem querer implicar com ele, todos o observa. Ele sente que não faz parte desse mundo vazio que vive e sonha em chegar o momento de terminar a escola e sair daquela cidade e daquela vida que detesta. Sua mãe, Mary trabalha no Departamento de polícia de Nova Iorque, ela é chefe de polícia, seu pai, Paul, é advogado criminal. Ele cresceu presenciando mortes, assassinatos, estupros e todo tipo de violência, sua irmã menor é poupada de ouvir essas atrocidades, coisa que não aconteceu quando ele era pequeno.
- Cara, essas garotas são demais – exclama seu amigo que chega ao seu lado.
- Quê?! – diz Sam confuso, ele olha para frente e enxerga as líderes de torcida dançando.
- Diz isso para os namorados delas – diz Sam apontando para o time de futebol.
- Cê é louco! Eles me matam.
- Oliver, você tem que parar de sonhar, garotas fúteis como a Kimberly nunca darão bola para gente. Olha para eles: jogadores fortes, com os bolsos cheios da grana e olha para nós: antissociais, feios, pobres e NERDS.
- É, mas temos uma coisa que eles não têm.
- O quê?
- Massa cinzenta. E um dia mandaremos neles – diz Oliver. Sam sorri – Gates disse isso não eu. Gates disse: nunca zombe de um NERD, pois ele poderá ser seu patrão seu futuro.
Os dois caem na gargalhada, abrindo o armário e pegando os cadernos. Ao fechar e caminhar, Sam esbarra em uma garota e derruba seus livros. Ele abaixa para ajuda-la a pegar.
- Desculpa – ele diz.
- Tudo bem, estou acostumada a ser invisível – brinca a menina.
- Bem-vinda ao clube – brinca Sam. Os dois se olham. A garota tem os cabelos escuros e olhos azuis cintilantes, ele fica admirado pela beleza da jovem.
- Sou Natalia, aluna nova – ela se apresenta.
- Olá, Nat... Nat... Nataly – ele começa a gaguejar. Ela sorri.
- Me chame de Naty.
- Muito prazer Naty, sou o Sam e esse é meu amigo Oliver.
O sinal toca.
- Foi um prazer Sam e Oliver. Então... a gente se esbarra – ela diz saindo.
- É verdade o que você disse sobre Gates? – pergunta Sam a Oliver.
- Sei lá! Acho que ouvi isso num filme – ele diz. Sam o olha inconformado com a resposta e vai para sala. Oliver o persegue – mas não deixa de ser uma frase de impacto.
No Departamento de Polícia, Mary chega para trabalhar. Marcel entra em seu escritório.
- Bom dia, chefe! Como está sua mãe? – ele pergunta.
- Morrendo – responde Mary – é o que acontece depois de alguns anos.
- Sinto muito.
- Tudo bem, ela já está doente há muito tempo, merece umas férias – ironiza Mary – só quero trabalhar e esquecer um pouquinho dos problemas em casa. Hoje de manhã descobri que Samuel está com problemas na escola. Ahhh – ela grita – chega! O que temos hoje?
Marcel joga a pasta com as fotos do crime da noite passada.
- Duas jovens foram mortas em uma república ontem à noite. Sem sinais de estupro, sem sinais de luta corporal, nem agressão, apenas cortes na garganta. O sangue delas foi usado para desenhar um pentagrama no chão e escrever uma frase na parede de idioma desconhecido.
Mary olha as fotos atordoada – é o segundo caso que aparece, o mês passado investigamos outro. Existe alguma ligação? – pergunta.
- Estamos investigando.
- Você entende o que está escrito?
- Não muito, sei que é uma língua morta, foi usada da ultima vez por pessoas acusadas de bruxaria na Idade Média. Acho que fala alguma coisa sobre trazer alguém de volta.
- Não sei como sabe essas coisas.
- Eu leio muito – justifica Marcel – Penso que talvez precisaremos de mais ajudar nas investigações desse caso, posso chamar duas pessoas que podem nos auxiliar.
- Eles são policiais?
- Não exatamente, eles investigam casos sobrenaturais de bruxaria.
- Bruxaria! Marcel; não quero amadores no meu departamento, se não tiverem identificação de investigadores, esquece.
- Eles não se envolveram no caso. Mary confie em mim, precisamos de ajuda, lidamos com coisa que não conhecemos – implora Marcel.
- Chefe, mais um corpo encontrado no centro da cidade. Moça de 19 anos, morta com um corte na garganta – diz o rapaz que entra na sala.
- Parece que temos um Serial Killer – diz Marcel – você vem? – pergunta a Mary. Ela veste o casaco e os três saem da sala.
Ao chegar à cena do crime. Mary e Marcel se deparam com algo mais assustador: a moça morta está com a barriga dilacerada e o feto encontra-se fora de seu frente, ainda preso ao cordão umbilical. O jovem acompanhante vomita.
- Não me disseram que ela estava grávida ao telefone.
A cena é quase a mesma, corte na garganta, sangue por toda parte, um pentagrama envolvendo o corpo e um escrito na parede no mesmo idioma: Retire as algemas, Recomponha-se...
Mary olha assustada. Por ser mãe, a cena a deixa desnorteada.
- Jonhson, ligue para central peça para perícia verificar se as outras duas jovens que morreram ontem à noite estavam grávidas – ela pede para o rapaz que está até verde e não para de ter ânsia de vômitos.
- Sim senhora – ele exclama saindo do local.
- Marcel, o que acha? – pergunta Mary.
- Precisamos de ajuda!
- Seus amigos são de inteira confiança?
- Não os chamaria se não fossem – diz Marcel.
- Ligue para eles, esqueça a identificação, os quero na cidade o quanto antes – ela exclama saindo.
Ao chegar no departamento, Marcel vai direto ao necrotério saber sobre o laudo da perícia, a fim de descobrir alguma ligação com as morte. Ele tem a terrível sensação que alguém o persegue, olha para trás e não vê nada, ao virar, se depara com uma linda jovem loira de olhos verdes. Ela arreganha os olhos que ficam inteiros vermelhos como sangue.
- Você é o investigador responsável pelo assassinato da garota grávida hoje? – ela pergunta.
- Sim – diz Marcel fingindo ser hipnotizado.
- Existe mais alguma morte semelhante?
- Duas garotas morreram ontem em circunstâncias parecidas e outras duas no mês passado.
- Todas estavam grávidas?
- As duas de ontem sim. A terceira possua uma menina de cinco anos.
A garota desaparece em um piscar de olhos de sua frente. Marcel pisca os olhos para recobrar os movimentos das pálpebras, ele entra na sala do necrotério, o legista está com o corpo da mulher morta no bosque aberto em cima da mesa.
- Por sorte a exumação saiu rápida, graças à tecnologia, não precisamos mais esperar dias – diz o legista.
- O que temos? – pergunta Marcel.
- O útero aparenta sinais de gestação, há pequenas dilacerações próximas à vagina, sugerindo um aborto, no entanto – diz o legista que mostra a Marcel o que aparenta ser um pedaço de pinça – eu retirei esse objeto metálico de dentro do útero dela, se havia algum feto, ele foi arrancado.
Marcel olha para o objeto e sua saliva desce seco pela garganta.
-Meu Deus! – exclama Petter que entra – Marcel, o abrigo ligou a filha dessa senhora na mesa do legista – aponta Petter enojado - Clara, anda tendo pesadelos e apresentando comportamento agressivo, foi internada no hospital psiquiátrico na saída da cidade.
- E por que eles ligaram para o departamento de polícia? – pergunta Marcel.
- Nas poucas horas de lucidez, ele diz que somente você pode protege-la, o diretor do hospital pediu sua presença para avaliar o comportamento da paciente na sua frente.
- Ela tem parentes?
- A avó materna a deixou no abrigo quando os pesadelos começaram, disse que não teria condições de cuidar de uma criança louca, assinou um termo em que se livra da responsabilidade com a menina e saiu da cidade.
- As famílias estão cada dia mais unidas – diz Marcel – doutor, mais um corpo virá para o senhor analisar, espero que tenha estomago forte, dessa vez o feto foi deixado do lado da mãe.
- Meu Deus! Quem faria algo tão terrível assim?! – diz o legista.
- É o que queremos descobrir – diz Marcel saindo do necrotério.
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