top of page

Parte III - Romênia: 4 de janeiro de 2030 - 19h30min


Castelo nos montes

Anastácia abre a porta do castelo, as luzes se acendem automaticamente, tudo está diferente e mais moderno, a tecnologia mudou a aparência antiga da residência. As pedras nas paredes dividem lugar com telas de vidro bem finas que exibem imagens de todo o castelo, conectado vinte e quatro horas por dia na internet, a parte do castelo que funciona como museu exibem imagens de banquetes e festas, hologramas percorrem o local com roupas típicas da Idade Média, enchendo os olhos dos visitantes. Na torre, reservada para os aposentos dela e de Ian, funciona o centro de controle de todos os softwares do castelo que são administrados por uma só pessoa, o caseiro, com o auxílio de um assistente virtual com inteligência artificial, comandado por voz, ele receber todas as informações e as transfere para os servidores, dando funcionamento estável para o local. Quando Anastácia e Ian chegam, o caseiro do local é dispensado para voltar para casa.

- Jack, chegamos – avisa Anastácia.

- O"lá, Ana, Ian, sejam bem vindos de volta" – soa a voz do assistente virtual.

- Olá, Jonhy, feliz ano novo! Como vão as coisas por aqui? – pergunta Ana.

- "Tudo bem, hoje tivemos cerca de 300 pessoas passeando pelo museu, todas aparentemente deslumbradas com os hologramas" – responde Jhony.

- Senhorita Anastácia, como foi o passeio? – pergunta Jack que entra no salão.

- Muito bem, obrigado Jack.

- Os senhores não me avisaram que voltariam hoje senão teria deixado pronto o jantar.

- Não tem problema, Jack, pode fazer suas malas e ir para casa, cuidamos de tudo agora – diz Ian.

- Está certo, preciso ver meus netos, o mais velho entrou para a faculdade – diz Jack sorrindo voltando para o quarto.

- Ele é realmente descendente de Thomas – diz Anastácia sorrindo – Eles nunca nos abandonaram.

- Em sua família, a lealdade é tida como essência. Edgar foi assim quando o reino caiu depois de minha transformação, seus descendentes também seriam – diz Ian, sentando na poltrona próxima à lareira, Anastácia senta em seu colo, ele começa a mexer nas pontas dos cabelos dela, agora lisos.

- Eles também são nossa família – diz Ana.

- Claro que são, ao final, temos poucas pessoas próximas a nós que conhecem nossa natureza, no entanto, essas pessoas nunca nos deixariam sozinhos e nós nunca os deixaríamos também – finaliza Ian.

- Precisam de mim para mais alguma coisa? – pergunta Jack voltando com a mala na mão. Ana e Ian levantam.

- Não eu lhe levo para casa, temos alguns presentes no carro para sua família – diz Ian.

- Os senhores são muitos generosos, obrigado!

- Obrigado você por cuidar de nós todos esses séculos – diz Ana – agora vão antes que fique tarde.

Ana abre a porta para Ian e Jack saírem.

- Já volto – diz Ian, beijando Ana. A porta se fecha, Anastácia começa a levar as malas para o quarto e desfazê-las. Após, vai para a cozinha arrumar algo para comer.

- Jonhy, você pode me dizer quais as notícias de hoje? – diz Anastácia enquanto prepara um sanduíche.

- “Claro. A Organização de Pesquisa Climática emitiu hoje um alerta sobre a escassez de água no mundo e pediu para que a população economize. Os governos de todo o mundo alegaram que a rede de abastecimento de água potável está sob controle e que ninguém passará sede em seus países. A Agência Espacial alerta redução da atividade solar na Terra em até 60%, o ano passado, o planeta já enfrentava frio constante durante o ano, para 2030, a temperatura tende a baixar ainda mais e os cientistas avisam que pode estar começando uma Mini Era Glacial” ... – Ana escuta passos na mata.

- Jonhy, acenda as luzes da varanda.

O computador ilumina o local, Anastácia abre a porta dos fundos e observa atenta o bosque, os passos aumentam, ela olha para o fundo das árvores e enxerga dois olhos azuis cintilantes se aproximando com olhar fixo a ela. Conforme a figura se aproxima, Ana percebe se tratar de um lobo e se apavora; seu último encontro com um lobo foi no feroz ataque em sua casa na Inglaterra, quando descobriu sua origem.

O lobo não parece temê-la, nem querer ataca-la, ele se aproxima e senta perto da porta, seus pêlos são negros, em volta de seu focinho e pescoço desce uma faixa branca estendendo-se até o peito do animal, suas patas são enormes, quase maiores que as mãos de Anastácia, ela fica o observando admirada com a beleza do animal; seus olhos a chamam para perto dele; ela se aproxima lentamente estendendo sua mão. Ela toca na cabeça do lobo que imediatamente deita-se para receber carinho, parecendo um animal de estimação.

Ana sente uma forte ligação com o animal, por um momento, ela tem a impressão de conhecê-lo toda a sua vida, demonstrando amor por alguns momentos, ele levanta a cabeça para lamber sua mão, Ana sente cócegas, o carro de Ian para, o lobo se assusta com o barulho e vai embora, deixando Ana anestesiada com a relação afetuosa do animal.

- Ana, o que faz aqui fora? – pergunta Ian.

- Eu vi um lobo.

- LOBO? Eles não aparecem por aqui há séculos – diz Ian procurando.

- Deixa, ele se assustou com o carro e foi embora – diz Ana levantando-se do chão – Você demorou o que aconteceu?

- A cápsula acabou a bateria, tive que recarregar – explica Ian – vamos pra dentro.

- Jonhy tranque todas as portas e janelas, ative o sistema de segurança, depois pode desligar-se – diz Ana.

- Sim Anastácia – responde o sistema.

- Tinha mesmo que pedir para os desenvolvedores criarem um sistema que respondesse pelo mesmo nome de seu irmão? Parece que Jonathan morreu e agora me observa em todos os cantos dessa casa – diz Ian. Ana sorri.

- É como se ele estivesse perto de mim novamente, só que agora ele obedece tudo o que eu falo, já não é mais tão teimoso – brinca. Ian se aproxima da mulher.

- Quem diria que um dia teríamos carros com cápsulas recarregáveis de energia, sistemas de computadores capazes de responder por voz nossos comandos, conectados a internet nos avisando das notícias em tempo real... Há alguns anos diria que isso só aparecia em filmes – diz Ian.

- Há alguns séculos, acharíamos ousadia e petulância de quem levantasse tais esperanças – diz Anastácia – Quem diria que viveríamos para ver isso acontecer – Ela vira-se e Ian a agarra por trás, beijando sua cabeça, passando sua pele por seus cabelos.

- Você se arrepende de ser imortal, gostaria de envelhecer e morrer? – pergunta Ian.

- Não. Minha diversão é ser imortal e tentar adivinhar qual a próxima invenção que irá mudar o mundo. A única indagação que tenho é se o planeta irá resistir a tanta tecnologia, os recursos naturais estão se esgotando – diz Ana.

Ian continua a passar seu rosto pelo cabelo de Anastácia:

- Ana, você não pode mudar o mundo, as pessoas fizeram isso, gastaram sem se preocupar e quando começaram a perceber que deveriam reduzir o consumo, já era tarde. Sabíamos que um dia isso ia acontecer - diz Ian - O que eu aprendi durante todos esses anos foi viver minha eternidade um dia de cada vez e se em um desses dias chegar meu fim, terei a certeza que vivi o suficiente e posso descansar, porque sei que fui feliz ao lado da mulher que amo e que ela me ama também – ele diz, virando-se para ela.

Os dois se beijam.


FOLLOW ME

  • Black Facebook Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Instagram Icon
  • Black Pinterest Icon
  • Black YouTube Icon

STAY UPDATED

POPULAR POSTS

TAGS

Nenhum tag.
bottom of page